Acabou o que nem tinha começado. Chegou ao fim o sentimento que mal tinha florescido. Comecei a perceber que posso viver sem esse amor, que meu coração não vive e não suspira apenas pelos seus olhos negros, pelos seus cabelos arrepiados e seu jeito nada meigo de conversar. Neguei essa dor, renegociei com meu coração esses sentimentos bobos e essa mania de amar você. Lá vou eu, lá se vai mais uma procura desenfreada e desesperada por um amor real. Que eu encontre quem procuro e que esse seja, principalmente, no mínimo, recíproco.
Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja. Clarice Lispector
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