Reclamei da falta que a faculdade faz, reclamei da bagunça que nunca muda, do dia que não se decide, da roupa, do calçado apertado, das unhas, do cabelo, do menino brigando com a menina, de como isso ta lerdo, da minha mãe falando palavrões, da falta de dinheiro, da falta de vontade, tempo, essa nostalgia barata, desse nome que não sai da cabeça, do tempo que não passa. Da ausência, da presença, do caso e do descaso. Isso pega? pegou!
Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja. Clarice Lispector
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