Todos deixamos rastros ao longo da vida. Deixamos rastros nos objetos, nos lugares, na memória de outras pessoas. Um detetive não terá dificuldades para descobrir quem fomos e o que fizemos. Visitamos alguém, e na casa visitada deixamos nossos rastros. Cinzas de cigarro, palavras cujo som ainda vibra na sala de estar, o calor de nosso corpo no sofá. Em nossa cama deixamos rastros. Rastros dos sonhos que sonhamos, rastros que denunciam com quem dormimos, rastros da insônia que sofremos em solidão. Finda a refeição, na mesa deixamos nossos rastros. Da gula que nos venceu, deixamos vestígios do prato não apreciado, rastros do pão generosamente dividido, do leite derramado, migalhas, grãos. Uma amizade deixa rastros. Conselhos inteligentes ou inúteis, gargalhadas sem fim, lágrimas por enxugar, passeios no final de semana, confidências, elogios sinceros, projetos em comum. Lemos um livro. No livro lido (ainda que nem sempre inteiramente) deixamos nossos rastros. Uma frase sublinhada. Uma pa...